Era apenas uma ideia. Pedir um irmãozinho para
papai do céu. Bebês são pequenos e fofinhos. Eu imaginava que quando ele
nascesse eu poderia segurá-lo e ajudar a cuidar dele. Afinal de contas, quando
ele nascesse, eu já teria 7 anos.
A medida que os meses passavam, minha mente
fornecia flashes do filme “A dama e o vagabundo” que eu assistia sem parar
desde que ganhei. Os desejos de madrugada, os cuidados. A mudança para uma casa
maior. A reforma do quarto para o bebê que chegaria. O alvoroço dos adultos,
que não viam os filhos mais velhos do casal, depois que o neném chegava.
E então, após a minha festa de aniversário, na
segunda feira fui despertada pela minha mãe com a notícia de que não iria para
a aula. Voltei a dormir, e quando acordei de novo, minha mãe tinha viajado com
o meu padrasto. Não entendi direito o porquê e pra onde, e sempre que
perguntava para alguém, me ignoravam, com um aceno impaciente, como se
estivessem dispensando uma mosca. Fui mandada para a casa das minhas primas
durante o dia, acho que para não fazer tantas perguntas. Antes de ir, contudo,
me concederam uma resposta impaciente. Só uma: Ela vai ter o filho hoje. Passou
mal depois da festa, por causa do esforço.
Eu tinha me esquecido desse detalhe. A comissão
de gente que veio para ajudar a tomar conta dele. A tia do meu padrasto, que se
parecia bem com a tia Sarah do filme, menos os gatos. A prima dele, que também
foi morar lá em casa. Claro que não seria eu, uma menina de 7 anos recém
completados, que ajudaria a cuidar do neném.
Mesmo assim, fiquei louca de alegria. A ideia
de irmão pouco a pouco deixava de ser uma ideia. Quando voltei, naquela noite,
fui informada de que a minha mãe e o meu irmão estavam bem. Melhor ainda, que
no dia seguinte iríamos ao hospital, ver o bebê.
Minha primeira viagem longa de ônibus. Hospital,
luzes brancas, cadeiras de plástico, cheiro de remédio. Meu coração não parava
de bater, acelerado, com a perspectiva de ver a minha mãe e o meu irmãozinho.
Minha mente voltou para o filme. A dama,
incerta, subia as escadas, com medo do que veria.
Entramos
num quarto onde estavam minha mãe, meu padrasto e minha tia-avó. Minha mãe
usava o roupão de cetim azul, que eu adorava ficar passando a mão. Ela me
mostrou os pontos da cesariana. Mas eu não me aguentava de ansiedade. “Cadê
ele?”
No filme, a dama se aproxima do
berço em silêncio, tentando olhar para o bebê, mas não alcança. Na vida real, me aproximo
do berço de vidro também. Um adulto chega por trás e levanta a dama, para que
ela veja o bebê cujo sono está sendo velado pela mãe. Meu padrasto, todo feliz, levanta o meu
irmão do bercinho e leva até mim para o que eu veja. Faz com que eu me sente, e
coloca, gentilmente no meu colo. Então, eu tenho uma reação inesperada. Começo
a rir.
Não é um riso histérico, eu
tinha consciência disso. No meu nervoso de ver aquela criaturinha tão pequena,
tinha medo de que se quebrasse, que acordasse, e ao mesmo tempo desejava que
ele abrisse os olhinhos, para que eu pudesse dizer: Sou eu, sua irmã.
Não me cansava de olhar para ele. Para a cabeça, a boquinha. A roupinha
de tricô azul. Então, mesmo sem abrir os olhos, ele sente que meus dedos
trêmulos passam, levemente, pela sua mãozinha tão pequena (eu não sabia que
bebês já tinham unhas tão grandes) abre a mão e se fecha em torno do meu dedo. Comecei
a rir mais ainda, com uma vontade estranha de chorar ao mesmo tempo.
Que lindo, Larissa! Senti um pouco da sua emoção passo a passo! Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirUm abraço,
Gabi
Larissa, adorei!! Parabéns ;)
ResponderExcluirJaqueline
Oi Larissa, que linda história! Um amor tão puro! Adorei! Parabéns..
ResponderExcluirBeijos, Elisa.
Delícia de texto, Larissa, adorei!
ResponderExcluirBeijo,
Edna
Muito tocante, Larissa. Desculpe a demora. Não sabia postar.
ResponderExcluirBeijos
Claudia